Dra. Luciana Faleiros Cauhi Salomão
Coerente com a nova ética mundial em que todos têm o direito de aprender, a Pedagogia da Expressão e sua correspondente Metodologia Ludocriativa, desenvolvidas pelo Dr. Prof Raimundo Dinello, 2007 com o seu método de aplicação, traz para a pedagogia o conceito de sujeito protagonista. O uso do lúdico e da criatividade como atributos do próprio sujeito favorecendo a sua expressão em interação com outros sujeitos e objetos durante um processo criativo que leva à articulação conceitual e a novas aprendizagens. Uma proposta que cuida ao mesmo tempo da convivência, da afetividade e do cognitivo vislumbrando um futuro melhor para todos, para o meio ambiente natural, sociocultural e que coloca o método científico em evidencia ao fazer a opção pela aprendizagem lógico-dedutiva banindo a indução que tanto prejudica o desenvolvimento do pensamento, da aprendizagem e o prazer de utilizar a inteligência.
Buscando uma harmonia com os tempos atuais, Dr. Raimundo Dinello desenvolve, nos anos 80, a Pedagogia da Expressão, cuidadosamente registrada na obra Tratado de Educación: Proposta Pedagógica del Nuevo Siglo (2007). Nesse Tratado de Educação, Dinello apresenta uma proposta pedagógica centrada na evolução da pessoa que aprende, com instrumentos próprios focados na interação Sujeito-objetos-sujeitos. A proposta se apoia no protagonismo de quem aprende, favorecendo a confirmação de seu desejo de aprender, a afirmação de sua identidade e de sua individualidade na integração sociogrupal.
A expressão ludocriativa dá assento à criatividade do sujeito protagonista e transforma os processos de educação em preparo do indivíduo para viver com dignidade na sociedade pós-moderna que é mais complexa e se apresenta com muito conflito de convivência social e com o ecossistema. Favorece, por meio da educação e da criação cultural, a formação dos valores, princípios estéticos e dos conhecimentos que darão ao sujeito a oportunidade de optar por um projeto de vida, sustentando assim o princípio da equidade e a regulação do processo de hominização do ser humano.
Segundo Dinello (2013, p. 1),
Para a aplicação da Pedagogia, centrada na expressão dos sujeitos que estão aprendendo na interação Sujeito-objetos-sujeitos, se faz necessário uma modalidade metodológica de expressão ludocriativa, que inicia com as atividades lúdicas e tem continuidade nos desafios da expressão criativa até a demarcação de um conflito pedagógico que abre os caminhos de mais informações e de uma lógica dedutiva para sistematizar os novos conceitos assim aprendidos.
Consciente de que cabe ao professor, de certa maneira, abrir horizontes para que o aluno ou os jovens compreendam que o futuro está justamente nas aprendizagens e na compreensão do conhecimento, a Pedagogia da Expressão, nos propõe dar atenção e protagonismo a quem está aprendendo, assegurando e dando qualidade ao processo de aprendizagem do sujeito que está aprendendo. Essa proposta pedagógica aprofunda novas ideias e busca superar a qualidade do pensamento para se evoluir na sociedade do século XXI que exige mais inteligência. A escola para todos, proposta para esse milênio, “é aquela escola que expressa compromissos decorrentes da Declaração dos Direitos Humanos, da Constituição de 1988, do Estatuto da Criança e do Adolescente e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação” (JABOR, 2011, p. 1). Essa escola precisa favorecer uma nova organização de pensamento e inteligência; maior cultura geral e vocabulário; desenvolver a capacidade lógico-matemática dos indivíduos e compreender o que se passa com a humanidade gerando novos conhecimentos e pesquisas.
Até então, a escola se organizara para transmitir um conteúdo já sistematizado; esvaziou-se de valores e deixou que a violência tomasse conta desse espaço educativo. Se queremos evoluir e nos diferenciar, temos que reencontrar o prazer de utilizar a inteligência, resolver problemas, produzir novos conhecimentos e aprender a conviver. Esse é o convite da Pedagogia da Expressão que assegura as aprendizagens e a evolução do sujeito na experiência, valorizando a convivência ao mesmo tempo em que desenvolve os conhecimentos e os valores humanos. Para isso, a metodologia de expressão ludocriativa se organizou para favorecer um processo de aprendizagem que dignifica a pessoa, transformando o seu pensamento na medida em que transforma a cultura. A inspiração para esse caminho veio do que fizeram os impressionistas e os expressionistas. Suas obras trouxeram, em meio às cores, linhas, luzes e sombras, os seus sentimentos, as suas emoções e impressões da realidade. As pinturas impressionistas e expressionistas partiram da afetividade do artista, do desejo de fazer a arte, ou seja, partiram da pessoa, expressando o que sentiam, numa situação bem diferente de quando se submete à cópia da realidade.
É assim também que acontece na expressão ludocriativa, em que se constrói o conhecimento partindo da pessoa, de seu sentimento e de sua afetividade. Abre-se um diálogo inspirado pela arte que reconhece o valor de cada pessoa que pode evoluir, porque tem uma inteligência a configurar. O ser humano aprende quando a inspiração está nele, na sua criação, no seu desejo de aprender e não quando ele tem que repetir e fazer cópia de um conteúdo que já vem sistematizado. Reconhecer o valor de cada pessoa na sua originalidade, nas diferenças, nas suas impressões e formas de expressão é o ponto de partida para um diálogo que movimenta a imaginação, a criatividade e a capacidade para aprender. O valor da espécie humana está na originalidade e nas diferenças que cada ser humano aporta e que a escola despreza.
A força da inteligência, impulsionada pelo desejo de aprendizagem, permite que se descubra o pensamento e, com isso, o docente tem um papel bem diferente daquele que obriga a todos repetir o pensamento do outro, fazendo cópias e exigindo a submissão. É muito diferente ensinar respeitando a pessoa, a sua inteligência, o seu pensamento, seus sentimentos e desejos de aprendizagem. Assim, como os impressionistas e expressionistas, criadores de um movimento artístico, que em vez de retratarem e reproduzirem a realidade, responderam a uma lógica interna que combina cores, preocupa-se com as luzes, com as sombras e seu efeito estético, o professor precisa se afirmar em um outro papel em que o respeito pela pessoa e pelas diferenças vai exigir uma mudança no sistema de educação e ensino que sempre trabalhou sustentado na submissão e na reprodução.
Precisamos reconhecer que cada ser humano tem um valor em si mesmo e pode evoluir porque deseja aprender e se fazer pessoa nas suas diferenças e potencialidades, podendo ser inteligente e original. Reconhecer que toda criança tem o direito a um processo de aprendizagem para se fazer sujeito e se tornar digno é um convite para construir o conhecimento a partir do sentimento e da afetividade, buscando a força da inteligência no desejo de aprendizagem e não porque é obrigada a reproduzir.
Notas de rodapé: